4ª A FUNDO

...à 4ª feira, a abri e a aprofundar...

Nestes dias de festa celebra-se uma outra cerimónia já esquecida. Uma cerimónia que marcava segundo os ritmos naturais o recomeço de um novo ciclo. Uma época marcada pelo renascimento da vida e pelo luto das memórias do último ano. Esta era uma festa pagã, a única que ainda mantem uma tradição particularmente ligada aos rituais mais ancestrais das comunidades. Todos tapavam as caras e todos eram uma mesma coisa e uma só pessoa - sem identidade- Todos se fundiam em rituais de extâse e transcendência.
Destas experiências místicas apenas sobreviveram as emoções. Mesmo os que as conseguem reprimir (as emoções) não ficam indiferentes à estranheza de um mascarado, ou à ternura de uma brincadeira. Mesmo o que não se mascaram não são imunes à estranheza de um ciclo cheio de papéis contraditórios e experiênças paradoxais.
Colocamos a máscara para tapar todas as outras e para ser mais um que não o "eu", a que me obrigo em sociedade. Brincamos porque queremos, porque dentro de nós ainda existe esta criança que se espanta e que é tudo sem ser ninguem.
Somos todos esta tentativa de recomeçar de novo. Somos todos estas máscaras que trocamos e que nem reconhecemos. Somos todos muitos mais do que aquilo que esperam de nós.
Este carnaval mascarei-me de "mim" e senti-me irreconhecível.